quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

TOMÁS ANTONIO GONZAGA




De MARÍLIA DE DIRCEU  (Lira II da Segunda Parte)

Esprema a vil calúnia muito embora,
Entre as mãos denegridas e insolentes,
            Os venenos das plantas,
E das bravas serpentes;

Chovam raios e raios, no meu rosto
Não hás de ver, Marília, o medo escrito.
            O medo perturbado
            Que infunde o vil delito.

Podem muito, conheço, podem muito,
As Fúrias Infernais, que Pluto move;
            Mas pode mais que todas
            Um dedo só de Jove.

Este Deus converteu em flor mimosa,
A quem seu nome deram, a Narciso.
            Fez de muitos os astros
            Qu’inda no Céu diviso.

Ele pode livrar-se das injúrias
Do néscio, do atrevido, ingrato povo;
            Em nova flor mudar-me,
            Mudar-me em Astro novo.

Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem,
            Verás então que os sábios
            Bem como vivem, morrem.

Eu tenho um coração maior que o mundo,
Tu, formosa Marília, bem o sabes,
            Um coração, e basta,
            Onde tu mesma cabes.



Tomás Antonio Gonzaga. Marília de Dirceu.  Porto Alegre: L&PM, 2002. 

Um comentário:

  1. Que preciosidade, assim caminha a poesia. Gracias pela partilha, Bozzetti.

    beijos,

    Carmen Silvia Presotto - Vidráguas!

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