sábado, 10 de maio de 2014

AFONSO HENRIQUES NETO TRÊS VEZES


IDEOGRÂMICO

luz na água
Dia.
luz água
Peixe.
(dia noturno
Fábula, Um.
peixe no eterno
Tudo, Nenhum.)

 

NOVOS TEMPOS

veja o ilustre passageiro
o belo tipo faceiro
que você tem a seu lado
 
e no entanto não minto
quase morreu o distinto
tomando choque no pinto

 salvou-o o rum labirinto

 

 PLENA PRIMAVERA

a primavera entra pela minha janela
não em ramos floridos e ternuras
de açúcar na manhã
ela se infiltra pela minha janela
não em brotos de luz e carícias
de esplendor perfumado
 
a primavera entra pela minha janela
na obsessão erótica de teus olhos
sangrando a viagem
nos labirintos
do silêncio
as paisagens onde não ardem os frutos
nem colorem as flores
e em que navegas mais que nua
a brisa arrancada da garganta
pássaro
rubi de gritos na carne das florestas
um gozo submarino de cintilações
e anêmonas
onde nenhum mar arranha as pétalas
de sexo e pedra
desgovernada primavera na janela
 
 
                                   Afonso Henriques Neto. Tudo nenhum. SP: Massao Ohno, 1985.
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário