sábado, 7 de fevereiro de 2015

JORGE DE LIMA: DE MIRA-CELI



Poema 16

Quatro enormes ventanias
seguem sempre alucinadas
enterrando noite e dia
comandantes e soldados.

Quatro enormes ventanias
roem o bronze das estátuas,
comem todos os vestígios
dos barões assinalados.

À face da terra estéril
fogem poeiras agoniadas;
restos dos grandes impérios
história e nome apagados.

Agora baixam do céu
quatro arcanjos operários:
afogam num charco abjeto
mil fabricantes de armas,
mil forjadores de guerra.

Depois nada?  quase nada:
bichos soturnos boiando
sobre o mar estagnado,
- um mar sem curvas de ondas

E depois?  depois vêm tontos
Lucífogo e Astorot
matando os outros demônios
se entredevorando ferozes.

Mas nada disso consegue
deter a rota perene,
milênio sobre milênio
do ciclo de Mira-Celi.


(de Anunciação e encontro de Mira-Celi. In: Poesia completa, v. 1. 2 ed.Nova Fronteira, 1980)

Zdzislaw Beksinski







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