SEIS ANACRONIAS
I
quanto
tentei acompanhar o carme adolescente
que
solfejei na porta do alumbramentolábios que refutei por medo
na loja do mundo simples
onde nos condenamos à felicidade.
finjo
que ali não tem o que procuro
e
adiante embaraço os pésnos cadarços dos sapatos.
mereço o tombo embora
me iluda: navio, me digo
e não calçada.
III
aquela
noite te acordei e fui te arrastar
com
toda volúpiapra te dizer que o primeiro amor morreu
o segundo amor morreu
o grande amor não era
e cantar-me a tardia adolescência.
para mim. para meus ouvidos
desabotoados.
IV
pergunto
entre um significado
e
o itinerário daquele ônibusentre o esmalte das carrocerias
e o verniz das carcaças, o sono
e o deambular da espécie
rumo ao mar
lêmingues
na manhã – embora de estiletes
acarinho a vida: seu dorso de terciopelo
a mão vai se tornando minha
a voz zela à bocca chiusa
o adeus à terra prometida
VI
melancólico
ectoplasma medusado fogo flâmula
o
varredor vai acumulando palavras recolhidasjunto ao meio-fio
saio de novo para a velha manhã
bonita e desabitada de palavras
ele continua lá. varrendo.
o ajudo – mtaadoâfperolasnoli
fora as que ficaram
mal varridas.
SÉTIMA
ANACRONIA
poder apagar a cidade
relógios e galerias
todas as calçadas toda a memória dos passos
todos os calendários virados.
não se pode estancar a
continuidade da cidade na cidade
do homem na cidade
do homem
como se
- cadê o privilégios dos caminhos? –
fosse só atravessar e num
mesmo movimento
apagar estancar zerar
e viver como se a mentira não fosse a água
a água
Roberto Bozzetti. A tal chama o tal fogo.
Oficina Raquel, 2008
Marianne Von Werefkin - Cidade à noite com taberna (1880) |
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