domingo, 21 de fevereiro de 2016

DUAS VEZES EUGENIO MONTALE (1896-1981)


Poema 37

 

É difícil viver
sem fé alguma;
cada dia a notícia
de um massacre.  E nas colisões
cotidianas, descobrimos o sombrio
sinal do destino.
Mesmo os zimbórios parecem
tetos baixos,mas uma nota,
um frêmito inesperado
entre as trepadeiras, ou um
desconhecido que rebate a bola
e a partida recomeça.
É a batalha da sobrevivência.

 

É difficile vivere
senza fede alcuna;
ogni giorno una notizia
d’un massacro.  E negli incastri
quotidiani, scorgiamo Il cupo
segno del destino.
Anche le guglie sembrano
tetti bassi, ma una nota
un guizo inaspettato
tra i rampicanti, o un ignoto
battitore che rilancia la palla
e la partita ricomincia.
È la battaglia della sopravvivenza.



Poema 43

 

Somos fantoches manipulados por mãos hostis.
Não adianta ver as injustiças.
Tudo agora ruiu. Até o prodígio
se esfarela.  Os olhos estão cansados.
O último tempo da vida foi vivido.
Só nos resta a magia de um vôo
desta terra fulminada para
um outro antro, no qual afundaremos
para depois emergir com contornos esbatidos.
 

 

Siamo burattini mossi da mani ostili.
Non serve vedere le ingiustizie.
Tutto è ormai diruto.  Si sfalda
anche  il  prodígio.  Gli occhi sono stanchi.
L’ultimo tempo del vivere è vissuto.
Resta solo l’incantesimo d’un volo
da questa terra folgorata verso
un altro antro, nel quale affonderemo
per poi emergere con contorni sfumati.  
 

                            Traduções de Ivo Barroso



 
Eugenio Montale.  Diário póstumo – 81 poemas dedicados a Annalisa Cima.  Trad. introd. e notas por Ivo Barroso.  RJ/SP: Record, 2000.



 

2 comentários:

  1. Se não tivesse disponibilizado original, autor e data, pensaria que tinha sido escrito por um cidadão fluminense sobre o cenário político atual.

    Adorei seu blog, Bozzetti!

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    1. Que bom, Adriana, fico feliz! Fique à vontade, um beijo grande
      do
      Bozzetti

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