Dois
poemas das gatimanhas & felinuras
brancura
a gata chamada
tamborim (tam-
bi)
olhos amareloesverdeados
cara chim
gosta de telhados livres
e do calor do colo
com miados de cortesia
mandarim
nos cumprimenta toda manhã
solicitando modestíssima
que a recebamos
no interior azulejado
da cozinha
na primeira noite de cio
miou por um gato galante
e com seu galã cinzamalhado
enluarou o telhado
branquíssima de paixão
nênia
para tamborim
tinha olhos
amarelos
miava mel
era selvagem –
messalina dos telhados –
mas tinha charme:
um gato cinza-macho
de olho azul
que miava Raul
tinha paixão por ela
gostava de pessoas
de preferência a outros
félices
(a aristogata lady bi
tinha ciúmes
dos seus olhos ambarinos
de gato – meretriz)
alvíssima
quase albina
com lugares rosa
limpava com esmero
a fuligem
que de andanças e atropelos
lhe ficava no pêlo
morreu
dama sem camélia
odete sem catléia
- a pobrezinha! – de
câncer na pele:
chorei (chorai) por ela
Haroldo
de Campos. Crisantempo: No espaço curvo nasce um. SP: Perspectiva, 2004.