Neruda em Araucânia |
VI
Perdão, se quando querocontar minha vida
é terra o que conto.
Esta é a terra.
Cresce em teu sangue
e cresces.
Se se apaga em teu sangue
te apagas.
XV
Nós, os perecíveis, tocamos metais,
vento, margens do oceano, pedras,
sabendo que continuarão, imóveis ou ardentes,
e eu fui descobrindo, nomeando todas as coisas:
foi meu destino amar e despedir-me.
XXV
Vai-se o hoje: uma cápsula
de fria luz que volta a seu
recinto,à sua mãe sombria, renascendo.
Deixo-o agora envolto em sua linhagem.
Dia, é verdade que participei na luz?
Tempo, sou parte de tua catarata?
Areias minhas, solidões!
Se é verdade que partimos,
fomos nos consumindo
em pleno sal marinho
e a golpes de relâmpago.
Minha razão tem vivido na intempérie,
entreguei ao mar meu coração calcário.
XXVI
Se há uma pedra destroçada
dela faço parte:estive na ventania,
na onda,
no incêndio terrestre.
Respeita essa pedra perdida.
Se encontras num caminho
um menino
roubando maçãs
e um velho surdo
com um acordeon,
recorda que eu sou
o menino, as maçãs e o ancião.
Não me magoes perseguindo o menino,
não batas no velho vagabundo,
não atires ao rio as maçãs.
Tradução de Olga Savary
Pablo
Neruda. Ainda (Aún). 4 ed. RJ: José Olympio, 1984.
Pablo Neruda faleceu em 1973, não em 1975, como erroneamente marcado na orelha da capa de AINDA (tradução de Olga Savary). O poeta faleceu, no Chile, em 23 de setembro de 1973. O erro da José Olympio, desde a primeira edição, causou uma enxurrada de informações equivocadas na rede.
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