A ALMA DOS VELHOS
Dentro de velhos corpos
perecíveis,a alma dos velhos tem morada.
Os sofrimentos da coitada,
a vida mísera; no entanto,
como a temem perder – amam-na tanto,
com a contraditória, aflita,
tragicômica alma que habita
suas velhas carcaças consumíveis.
É um ancião. Decrépito, curvado,
vencido pelos anos e os
excessos,ele atravessa a passo lento o beco.
Enquanto volta à casa, que lhe oculta
a ruína e a velhice, ele medita
no quinhão reservado ainda aos jovens.
Agora adolescentes lêem-lhe os versos.
Seus olhos vivos recriam-lhe as visões,
fremem suas mentes sãs, voluptuosas,
- e suas carnes firmes, bem talhadas –
com a beleza por ele revelada.
LEMBRA, CORPO...
Lembra, corpo, não só o quanto foste amado,
não só os leitos onde repousaste,
mas também os desejos que brilharam
por ti em outros olhos, claramente,
e que tornaram a voz trêmula – e que algum
obstáculo casual fez malograr.
gora que isso tudo perdeu-se no passado,
é quase como se a tais desejos
te entregaras – e como brilhavam,
lembra, nos olhos que te olhavam,
e como por ti na voz tremiam, lembra, corpo.
Tradução de José Paulo Paes
Konstantino
Kaváfis. Poemas. 2 ed. RJ: Nova Fronteira, 1982.
Kaváfis - Autor não identificado |
Profundo!
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