terça-feira, 3 de janeiro de 2012

AH, UM SONETO... DE CÉSAR VALLEJO



Me moriré em París con aguacero,
un dia del cual tengo ya el recuerdo.
Me moriré em París – y no me corro –
tal vez um jueves, como es hoy, de otoño.

Jueves será, porque hoy, jueves, que proso
estos versos, los húmeros me han puesto
a la mala y, jamás, como hoy, me he vuelto,
con todo mi camino, a verme solo.

Cesar Vallejo ha muerto, le pegaban
todos sín que él les haga nada;
le daban duro con un palo y duro

también con una soga; son testigos
los dias jueves y los huesos húmeros,
la soledad, la lluvia, los caminos...

            Caros leitores, com este soneto de Vallejo, passo a considerar o espanhol como a segunda língua aqui do blog.  Principalmente porque tenho deixado de postar alguns poemas de que gosto muito em língua hispânica por não encontrar traduções que me pareçam à altura dos originais.  O magnífico Vallejo postado acima me fez decidir abrir mão de traduções que não me satisfaçam, e assim direcionar também os leitores para essa língua irmã, tão próxima de nós e tão bela, cujas dificuldades,  aos que não tenham maior familiaridade com ela,  podem ser vencidas sem esforço excessivo – os esforços maiores de fato ficam para as particularidades da linguagem poética, mas aí elas já têm em boa medida sua correspondência na parcela do prazer próprio de quem ama a poesia.
            Uma breve notícia sobre o poeta: César Vallejo é um magnífico poeta peruano, autor de  Trilce (1922), livro que o celebrizou na poética de vanguarda, tendo vivido de 1923 até sua morte  em Paris em 1938, aos 46 anos.  Praticamente tocado de sua pátria por conta de perseguições de cunho mais ou menos disfarçadamente político.  Vallejo em Paris viveu sempre com extrema dificuldade, freqüentando,  mas sempre na periferia,  o  ambiente vanguardista tão glamourizado na história da arte moderna. 
            Sobre o soneto acima, transcrevo o que diz Alfonso Berardinelli em seu Da poesia à prosa:
           
            “(...) a Paris do surrealismo, dos artistas, e, mais tarde, dos intelectuais de esquerda, vista por um autêntico e refratário provinciano da periferia, sem pátria e sem casa, como o peruano César Vallejo, não aparece sequer como estimulante e vertiginoso cemitério de sofisticações estéticas: é só um lugar onde morrer na mais desconfortável penúria e solidão. (...) Aqui, Paris não é um centro vital de cultura, mas sim uma periferia desolada e fúnebre para imigrantes miseráveis, intelectuais ou quase, que morrem de inanição.”
                                                                                                                               
Alfonso Berardinelli.  Da poesia à prosa.  Cosac-Naify, 2007.



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