[dos textos do exílio londrino]
Cremúsculo. O sol, a só, despe de si, digo, despede-se,
desce pé ante pele, descalço, dá-se e sobe, digo, sob, ou melhor, sobre as
bandas cremoças das mulheres alfíssimas do hemisferno nhorte. Kolinas sonrisam no horizonte. Mastros desdesenham-se no ocidonte. Acapulcos
e havaís tampouco. Tranquislidade. Moite.
Não há dúvida: é chagada a hera dos maiares desgrossos. Não há dúdiva: ele virá, sentará de pé sobre
a poldrona enfernizada onde tandos senturame fera o seu elequante discorso: sua
eterna dádiva; nossa eterna dívida.
Assim pressunto trudo que já estrá aquantessendo encuanto camino por las
calles de esta casa grande mansão da minha hotess. Sua majestade, sua desclarada, sua cachorra
de minha adolescênica, por que nunca me declaraste nenhum amor enquanto eu era
virgem e voraz? Eres uma pública. Y yo te quiero, yo te quiero... Mas como eu
ia rizendo: alguns mastrodantes circruzavam pela prehisteria na hora da ave
maria. Cai a tarde tristonha e serena,
em macio e suave langor, despertando no meu coração as saudades do primeiro
amor. Um gemido e se esvai lá no espaço
nesta hora de lenta agonia quando o sino saudoso murmura badaladas apropriadas.
Braçal, ano dos maus. Brastel, amo dos
meus. Passou o ano dos gols. Bravil, anda com ferro e gorgulho a terra
onde Maciste, criança, enfrentou João Lúcio Godar: não verás nenhum Paris como
este. Olha que Shell, que mer, querida,
que forgets! Papo furado. Acordar tarde
demais é que é fogo. A mulher que eu amo realmente me disse que eu acordasse
mais cedo um pouco. Ao crespúsculo é demais.
Fossa na certa. Merci bocu. O bandeide da luz vermelha rides again. Qualquer negócio. Hoje em dia, minha filha, tanto faz como
tanto fez. Entretanto não adianta
resposta. Há dias em que adias
tudo. Ou: há dias tudo. ADIO GRINGO!
Here comes the Sun king. Ringo, João,
Paulo e Jorge. Ringo nunca foi
santo...João houve dois e agora há, pelo menos, 23. Paulo parlava molto. Jorge adaptou-se tão bem aos pegis brasileiros
que o Vaticano despediu-o. Eis tudo o
que sei sobre religião, perguntarão. E
jamais saberão. E nunca sabão. E nem são. E não. Hão? Rima rica do meu
verso, minha canção preferida, melodia do meu samba, vida da minha própria
vida.
- Ouvi passos lá fora.
- Quem será?
- A essa hora.
- Anda, Luzia, pega um travesseiro e vai ver lá no quintal.
- Eu? Mas nem morta.
- Anda logo. E fale baixo aqui pra ele não ouvir.
- Ele quem?
- Sei lá... o ladrão, ora. Quem fez o barulho lá fora.
- Que barulho?
- Você não ouviu?
- Ah. Não encha o saco.
Luzia levantou-se, andou até o
banheiro, acendeu a luz. Uma estranha
serenidade invadiu a sua alma. Lá estavam
as escovas de dente sobre a pia, a banheira rachada, o chão molhado em volta da
latrina, todas as pequenas coisas das quais dependia a sua felicidade. Será que a palavra latrina sairia na revista Querida? Trentarei, noventarei. Eu sou um escritor cujo estilo é uma
tentativa de realizar o irrealizável: um Nelson Rodrigues prafrentex.
Publicado
n’O PASQUIM, edição de 4 a
10/12/1969. In: Caetano Veloso. Alegria,
alegria: uma caetanave organizada por Waly Salomão. Salvador: Pedra Q Ronca, 1977.
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