sexta-feira, 15 de julho de 2016

RAINER MARIA RILKE (1875-1926)


Ali vivem homens, pálida florada
que morre pasma do mundo e sua agrura;
ninguém enxerga a careta indisfarçada
que o sorriso de uma raça delicada
ao fim de noites sem nome desfigura.

Vão por aí degradados pela lida
de servir, apáticos, a desrazão;
as suas roupas estão sempre puídas
e logo se enrugam suas belas mãos.

A multidão os empurra sem notar
seu andar incerto e seu ar de doentes –
apenas cachorros tímidos, sem lar,
os seguem por algum tempo, mudamente.
 
A mil atormentadores os atiram,
cada hora que bate é um brutal chamado,
em torno dos hospitais ei-los que giram
à espera de internar-se, angustiados.

    Lá está a morte.  Não a que, esplendor,
os tocou na infância, quando os saudou, mas
a pequena morte (como a entendem lá)
que ora dentro deles, verde, sem dulçor,
é fruto que não amadurece mais.

 

                                               Tradução de José Paulo Paes

 

 

 in: Rainer Maria Rilke [poemas].  Tradução e introd. José Paulo Paes. Companhia das Letras, 2009.

 

Beelitz Heilstätten Hospital, Berlim
 

 

 

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