domingo, 4 de dezembro de 2016

FERREIRA GULLAR

FIM

Como não havia ninguém
na casa aquela
terça-feira tudo
é suposição: teria
tomado seu costumeiro
banho
de imersão por volta
de meio-dia e trinta e
de cabelos ainda
úmidos
deitou-se na cama para
descansar não
para morrer
         queria
dormir um pouco
apenas isso e
assim não lhe
terá passado pela
mente – até
aquele último segundo
antes de
se apagar no
silêncio – que
jamais voltaria
ao ruidoso mundo
da vida


Ferreira Gullar.  Muitas vozes.  4 ed. RJ: José Olympio, 2000.

foto de Eder Chiodetto
(http://www.tirodeletra.com.br/index.htm)

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