segunda-feira, 28 de outubro de 2013

FRAGMENTOS DE NÁUFRAGO


onde se divisa o que das naus não é sequer vestígio
superfície serena de um mar que é sempre o mesmo

            - nada acena
        nuas quedas
            gesto de placidez
             gosto de abismo
tudo é nítido -

dispersos despojos incontáveis
       inencontráveis
quando ao fim de tudo nos dermos o trabalho
de reunir os dias para prestar contas
ao último suspiro

- gastos sonhos
                     um corpo interdito
       uns olhos imensos
                   cabelos de risco
                        seios e dorsos percorridos a língua
              ou somente sonhados desabitados
apesar da sede que neles ardeu
giz bic lápis –

e não soubermos distinguir do que é
o que se finge
e se o que era
era tão só a visão da sua estátua
ou a própria esfinge

 

 

 

 

 

 

 

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