bala
perdida
que
desce
o morro
o asfalto
e se aloja na cabeça
de um anjo
que
se
agachou
para apanhar
uma das penas
O
RELÓGIO AVARIADO DE DEUS
(e se o fez nem sentiu que sorria)
pelo beijo desejado todos os dias
pelo amor da menina de óculos
fundo-de-garrafa do final da sala de aula
que nunca virá
(e quando vier, outros será o amado)
pelo silêncio guardado no calabouço
pela mãe dividida com o irmão
pelo não
pelo verbo implodido na garganta
pelo pai sonhado e por isso inexistente
(como todos os pais sonhados
e por isso inexistentes)
pelo filho que enviou sinais
e os tradutores não conheciam a sua língua
pelo parapeito
(o último pódio)
pela vista panorâmica
(do nada)
pelo Junho
(sem santos populares
nas alturas)
pela terça-feira
(de céu limpo)
pela janela
(do oitavo andar)
pelo vôo
(sem pára-quedas)
pela consciência
(ante o asfalto)
pelo impacto
(antes do zeroda nossa impotência)
morreste-nos
Ozias
Filho. O relógio avariado de Deus. Rio: Texto Território, 2016.
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