domingo, 23 de outubro de 2016

COM ADRIANO NUNES E PAULO TALARICO




     No acaso algorítmico das redes sociais, me deparo no Facebook com uma dupla postagem de há um ano: um poema que dediquei a Adriano Nunes (e Paulo Talarico) e um poema de Adriano Nunes a mim dedicado.  Reúno aqui os dois poemas, acrescentando uma ilustração de Talarico que diz bem do que os poemas também dizem: os dados do bem-querer e dos acasos da amizade.  Num bom domingo!



NÃO ME CHAME
                    para o Adriano Nunes e
           o Paulo Talarico

Não me chame
         não sou gregário
                   não sou de enxame
é pouco provável
         que eu vá
embora nem vá
dizer:

 Não

mas não vou
não me espere
nunca me atraso
também
não me adianto
nem pro ménage
nem pra homenagem
    nem pro rendez-vous
nem pra santíssima trindade

Não quero encontrar os semelhantes
não tou na fila do confessionário
nem na do mega-show
nem na do lambe o cu do empresário
nem na dos cumprimentos
o pódio que desabe

nado e que se foda a direção dos ventos
e o que leva a correnteza
        
eu já tou dentro e muito dentro
não tenho tempo, absorvido sou
escravo
anfitrião
hóspede
              da beleza






"O PÓDIO QUE DESABE"
 para Roberto Bozzetti

Nem todos os louros da Grécia Antiga
Nem o ouro da Atlântida perdida
Nem medalhas civis ou militares
Nem mesmo as placas comemorativas
Nada disso convém, bom que se diga
Nada disso faz falta a qualquer lida
Nem pedestais de santos nem altares
Nem tronos de nobres sequer de trastes
Nem as honras da recompensa pública
Nem as tais glórias tidas como únicas
Nada disso aqui vale, em nada implica
Nada disso dá alma a qualquer vida
Nem homérica íntima homenagem
Nada: só Arte! E o pódio que desabe!


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