sexta-feira, 11 de novembro de 2011

DEZ EPIGRAMAS DE MARCIAL POR DÉCIO PIGNATARI

I, 24
Veja, Deciano, aquele homem despenteado,
Cenho cerrado, que até incute medo,
E que só fala dos varões de antigamente:
Casou-se ontem, acredite: ele era a noiva.


I, 46
Se você exclama, Edilo: “Vou gozar –
Depressa!” – o meu tição se esfria, apaga.
Prolongue o ato que eu irei mais rápido.
Para ir depressa, diga: “Devagar”.


I, 57
De que tipo de garota eu gosto, Flaco?
Entre a difícil e a fácil, meio a meio.
A namorada ideal é assim que eu quero:
Não infernize  a minha vida e não me farte.


I, 104
Bem fodida, cantava mal Neném.
Agora, sem um beijo, canta bem.


II, 63
Você depila peito, braços, pernas
E apara em arco os pentelhos.  Dou fé,
Labieno: é pra agradar à namorada
– Mas, e o cu depilado, pra quem é?


II, 73
“O que fazer, de pilequinho?”, indaga Lupe.
O mesmo, sóbria: chupe.


V, 46
Prefiro os beijos que lhe arranco à força:
Sua ira me é mais bela que o seu rosto!
Por isso, eu bato, Diadumeno, e peço,
Mas você não me teme, nem me ama.


VI, 6
Você, que aterra os homens com o pênis
E as bichas com a foice, guarde, Príapo,
Os poucos metros deste chão distante.
Não entrem no pomar velhos fuinhas
Mas deixe passar algum garoto
E os cabelos compridos das meninas.


II, 59
Sou chamado A pequena: um restaurantezinho,
De onde se avista o mausoléu do grande César.
Triclínios, vinhos, rosas, nardo perfumado
E um deus augusto que assinala: a morte é certa.


III, 53
Dispenso o seu rosto
Dispenso o pescoço
Dispenso as duas mãos
Dispenso seus peitos
Dispenso suas coxas
Dispenso sua bunda
Dispenso os quadris

– E para mencionar mais um detalhe,
Dispenso você,  Beatriz.

            Décio sobre Marcial (Marco Valério)

            “Nasceu no ano 40 d.C., em Bílbilis, na hoje província de Saragoça, Espanha.  Foi para Roma em 64, retornando depois de 30 anos à terra natal, onde morreu no ano 104.  Viveu a vida típica de um cliente, homem supostamente livre, que vive de badalações e de prestar serviços aos poderosos, a começar do bestial Domiciano.  Foi cronista social obsceno e pornográfico de seu tempo, por isso mesmo criticado, quando não desdenhado e desprezado.  Seus epigramas, no entanto – mais de um milhar – diostribuídos em 12 livros, vêm atravessando os séculos, influenciando muitos escritores e poetas, entre os quais Rabelais, Quevedo, Gregório de Matos, Bocage.  Com Juvenal, também espanhol e que foi seu amigo, forma a dupla maior da poesia satírica latina.”

In: 31 poetas 214 poemas: Do Rigveda e Safo a Apollinaire. Uma antologia pessoal de poemas traduzidos, com notas e comentários de Décio Pignatari. Editora da Unicamp, 2007.



2 comentários:

  1. Que coisa não... mas eu ri tanto do primeiro epigrama "Casou-se ontem, acredite: ele era a noiva" Num guento! rsrs

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