SONETO DO EMPINADOR DE PAPAGAIO
A nada aceito, exceto a eternidade,
nesta viagem ambígua que me leva
ao altar absoluto que, na treva,
espera pela minha inanidade.
O que sonhei, menino, hoje é verdade
de alva estação que em meu silêncio neva
o inverno de uma fábula primeva
que foi sol, cego à própria claridade.
Na hora do fim de tudo, separados
fiquem os dois comparsas do destino
que sabe a cinza após o último alento.
E a morte guarde em cova os injuriados
despojos do homem feito; que o menino
empina o papagaio, vive ao vento.
Lêdo Ivo
Duas anotaçõezinhas:
1. Postei no dia 20, anteontem, o “Bonde”, meu poema favorito de Oswald de Andrade, e me lembrei, quase que por antonomásia, de Lêdo Ivo, que por ser um dos “top” da Geração de 45, se situa poeticamente bem longe do genial antropófago modernista. E lembrei, claro, do divertido episódio “calcanhar de Aquiles X chulé de Apolo”, que tinha lido certa vez em Haroldo de Campos. Posto aqui o trecho da entrevista de Haroldo, que colhi no site “Tiro de Letra”
2. Junto aqui um poeta a outro também porque a Folha de S.Paulo publicou recentemente uma entrevista de Lêdo Ivo, e eu concordo integralmente com sua posição quanto à prática cada vez mais comum de herdeiros parasitarem o nome de seus parentes célebres, que fizeram por onde ser célebres. Vai aí o link: http://sergyovitro.blogspot.com/2011/04/familia-nao-devia-herdar-obras-diz-ivo.html
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