sábado, 9 de abril de 2011

O NOME DE UM POETA NESTA HORA: TASSO DA SILVEIRA



CANTIGA EM Ô

Madrugada é lá tão longe...
No céu, nem lua redonda,
nem lua em forma de foice.
Com rostos de medo e assombro,
hirtos, lentos, roucos, moucos,
os homens passam na noite.

Pés feridos nos pedrouços
da caminhada sem pouso,
da dor funda ao duro açoite,
lôbregos, trôpegos, torvos,
numa procissão de escombros
passam os corpos na noite.

Madrugada alta está tão longe.
No céu nem lua redonda,
nem lua cortada em foice.
Por tredos becos esconsos,
pobres, velhas, rotas,
as almas passam na noite.

Passam na noite estagnada
em busca da madrugada.

                  (In: Panorama do movimento simbolista brasileiro, v. 2. Andrade Muricy)

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