segunda-feira, 2 de maio de 2011

BAR MONDEGO: LUPICÍNIO CUBISTA


            Postei o Lupicínio Rodrigues e lembrei de um poema que publiquei no primeiro livro, A tal chama o tal fogo, que não apenas o cita como também é uma tentativa de fazer poesia cubista em tom lupicínico.  Os poemas do livro, que foi lançado em 2008, são quase todos da década de 1980, contando ainda com um ou dois escritos no final dos 70. Essa defasagem me fez e me faz bastante impreciso ao tentar medir o valor que porventura possam vir a ter.  Não chega a ser um desconforto, mas é uma desconfiança que ainda me parece insolúvel sempre que retorno àqueles textos.
            Entre esses poemas há uns poucos de que gosto particularmente, entre eles este que posto aqui, no qual tentei fazer uma brincadeira cubista com a cornitude, e que por isso chamo sempre de Lupicínio cubista.  Apesar de ser um dos poemas de que gosto no livro, nunca nenhum dos meus... (fortuitos?) leitores ou entre aqueles ainda mais... fortuitos que comentam por vezes meus poemas pessoalmente, demonstrou maior apreço aí ao “Bar Mondego”.
            Empolgado pela audição do lindo CD de Lupicínio lançado pelo SESC-SP na produção de Fernando Faro, no qual o mestre gaúcho comenta as circunstâncias das diversas músicas que canta, quase resolvi fazer o mesmo aqui. Mas não faço não. Deixo o poema falar.

BAR MONDEGO
                                   mas o homem espia o homem, inexoravelmente
                                                                                    Ciro dos Anjos

falas baixo
– sim? –
assim
te vigio
quase acaso
encostada no ombro
passas
num braço
(que nem um pedaço
tudo aceso
para mim
teu caso
o mar inteiro
diviso
do basculante
do banheiro
noturno
cartão-postal
do Rio de Janeiro
felinas pupilas
mijando
bebendo
milhares)
não ouço
quem ouve
é outro
sucede
que o outro
é sucedâneo.

In: A tal chama o tal fogo.  Oficina Raquel, 2008

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