domingo, 11 de setembro de 2011

DRUMMOND: ALGUMAS “DRÁGEAS DE SUPOSTA SABEDORIA”




. Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo.  E sempre se pode deixar.
. Ao escrever, não pense que vai arrombar as portas do mistério do mundo.  Não arrombará nada.  Os melhores escritores conseguem apenas reforçá-lo, e não exija de si tamanha proeza.
. Leia muito e esqueça o mais que puder.
. Acha que sua infância foi maravilhosa e merece ser lembrada a todo momento em seus escritos? Seus companheiros de infância aí estão, e têm opinião diversa.
. Não cumprimente com humildade o escritor glorioso, nem o escritor obscuro com soberba.  Às vezes nenhum deles vale nada, e na dúvida o melhor é ser atencioso para com o próximo, ainda que se trate de um escritor.
. O porteiro do seu edifício provavelmente  ignora a existência, no imóvel, de um escritor excepcional.  Não julgue por isso que todos os assalariados modestos sejam insensíveis à literatura, nem que haja obrigatoriamente escritores excepcionais em todos os andares.  
. Faça fichas de leitura.  As papelarias apreciam esse hábito. As fichas absorverão o seu excesso de vitalidade e, não usadas, são inofensivas.
. Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de sua geração e ataque.  Não há polícia para esse gênero de atividade.  O castigo são os companheiros e depois o tédio.
. Evite disputar prêmios literários.  O pior que pode acontecer é você ganhá-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.
. Antes de reproduzir na orelha de seu livro a opinião do confrade, pense, primeiro, que ele não autorizou a divulgação; segundo, que a opinião pode ser mera cortesia; terceiro, que você não admira tanto assim o seu confrade.
. Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses.  Não exija maior coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.  E proceda à revisão periódica de suas admirações.
. Deixe-se fotografar à vontade, sem chamar os fotógrafos; não recuse autógrafos,  mas não se mortifique se não os pedirem.  Homero não deixou cartas nem retratos; Baudelaire deixou uns e outros.  O essencial se passa com outros papéis.

                        “A um jovem”.  In: A bolsa & a vida.

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