DÓI
MAS VOCÊ GOZA (prefácio-manifesto)
Eu, Roberto
Piva, poeta espacial-luxuriante, me equilibro na glande do deus Príapo. Verão como tremo ardendo inverno. Nunca mais levei a sério nada a não ser os
corpos. E os deuses dos corpos. O corpo confere perfeição, não é mesmo, W. B.
Yeats? Voltei às paixões da
adolescência: Virgílio, Baudelaire,
Dante, Pessoa, Catulo, Cravan, Stockhausen, Artaud, Nietzsche, Ferenczi,
Heliogabalo, Lautréamont, Johnny Alf, Elvis, Michaux. Platão (que comecei a ler
aos 14 anos), Walter Pater e Machiavelli.
Abandonei definitivamente o Ocidente-Oriente com seus
socialismos-fascismos, que florescem nos confessionários do tempo do deus
Kareta. Meu deus de cabeceira é
Dionísio. Minha missão é a Confusão & Paixão. Sem elas estaríamos de uniforminho azul
adorando a cueca de tafetá do funcionário Mao.
Ritos da confusão. Festas da
paixão alucinógena. François Villon só
me aparece nos mictórios. Dante &
seu disco voador de luz neon. Crevel,
Artaud & Reverdy me olham da parede invisível no quarto-barricada onde
durmo. Jarry, Picabia & todos os
boys.
Relendo
Vico outro dia, percebi que meu amigo Roberto Bicelli estava certo: eu também
quero ver frango ciscando na avenida São João.
Oswald, Sade, Novalis, Pasolini, Swift, Vico, Pessoa, Reverdy, bom-dia!
Deus
Hölderlin, faça de mim o bumerangue de todas as paixões!
São Paulo,
13 de fevereiro de 1982.
POEMA ELÉTRICO DO CU
músculo de veludo na boca de
todos os feirantes torpedeiros meninas
de internato negociantes padeiros farofeiros
torcidas exércitos de humanocultura onde você habita
alucinante como promessa derradeira
cu boquiaberta entrada franca
dos demônios pesadelo dos adolescentes
fogueira da solteirona em férias
árvore genealógica da Cloaca Mater onde foi chocado o ovo humano numa
temperatura de 30 sóis
cu fonte de energia kundalini hóstia dos grandes libertinos fornalha dos cocainômanos boca azulada da verdade corpórea
diagramada no infinito do desejo
cu grande iniciador de tempestades amorosas vertigem verdadeira onde os amantes
deslizam
cu vaporizador da Idade Média do corpo onda bioenergética de metais coloridos omoplatas carregadas de hidrogênio leopardos alucinados de tanto veludo
cu de cabelos negros
loiros ruivos castanhos cipoal de intrigas onde o caralho se
perde se desnorteia desmaia de gozo na contração do espasmo
da alegria erótica
cu selvagem assaltante
noturno diurno trombadinha espadachim das estradas que levam ao Grande Precipício anunciador
de Paixões
cu das penugens suaves &
sumarentas flor carnívora labareda policiada pela civilização ave louca
solitária perdida bêbada
amorosa
cu proletário do corpo grande escorpião revoltado teu vôo de liberdade começa a acontecer
Roberto Piva. Coleção
Postal 1. Rio: Azougue/Cozinha
Experimental. 2016.
Numa iniciativa conjunta da
Azougue Editorial e da Editora Cozinha Experimental foi lançada a Coleção
Postal, com 12 livros vendidos mediante assinatura, 1 livro por mês – cada mês,
30 poemas de um poeta e mais entrevista.
O primeiro volume foi dedicado a Roberto Piva, com poemas (de 1961 a
1996) nunca antes reunidos em livro, e
uma entrevista concedida por ele a
Daniilo Monteiro, Pedro Cesarino e Sergio Cohn.
A edição é caprichadíssima, super bem cuidada, capa dura revestida em
tecido. Livros belos, como deveriam ser
todos os livros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário