quarta-feira, 16 de novembro de 2016

WALLACE STEVENS (1879-1955)

CONNOISSEUR DO CAOS

I
A. Uma ordem violenta é uma desordem; e
B. Uma grande desordem é uma ordem.  Essas 
Duas coisas são uma só. (Seguem páginas de exemplos).


II
Se todo o verde da primavera fosse azul – e é;
Se as flores da África do Sul estivessem brilhando
Nas mesas de Connecticut – e estão;
Se os ingleses passassem sem chá em Ceilão – e passam;
E se tudo andasse em ordem –
E anda; uma lei de oposições interiores,
De unidade essencial, é deliciosa como um cálice de porto.
Deliciosas como as pinceladas de um ramo
De certo ramo especial – digamos, de Marchand.


III
Afinal de contas o lindo contraste entre vida e morte
Prova que essas coisas opostas participam de uma só,
Pelo menos era essa a teoria, no tempo em que os livros dos bispos
Resolviam o mundo.  Não podemos voltar a isso.
Os fatos coleantes ultrapassam a mente escamosa,
Se é que se pode falar assim.  Seja como for a relação persiste,
Uma pequena relação se espalhando como a sombra
De uma nuvem na areia, uma forma ao lado de um outeiro.



IV
A. Bem, uma velha ordem é uma ordem violenta.
O que não prova nada.  Uma verdade a mais, um elemento
Na imensa desordem das verdades.
B. É abril enquanto escrevo.  O vento
Sopra após dias e dias de chuva constante.
Tudo isso, naturalmente, mais cedo ou mais tarde, dá em verão
Mas suponhamos que a desordem das verdades dê um dia
Numa ordem, muito Plantageneta, muito estabelecida...
Uma grande desordem é uma ordem.  Agora, “A”
E “B” não são como estátuas posando
Para uma foto no Louvre.  São coisas riscada a giz
Na calçada, para que os pensativos possam vê-las.



V
Os pensativos... Esses podem ver a águia pairando, a águia
Para quem os Alpes complicados não passam de um só ninho.







CONNOISSEUR OF CHAOS


 I
A. A violent order is a disorder; and
B. A great disorder is an order. These
Two things are one. (Pages of illustrations.)



II
If all the green of spring was blue, and it is;
If all the flowers of South Africa were bright
On the tables of Connecticut, and they are;
If Englishmen lived without tea in Ceylon,
             and they do;
And if it all went on in an orderly way,
And it does; a law of inherent opposites,
Of essential unity, is as pleasant as port,
As pleasant as the brush-strokes of a bough,
An upper, particular bough in, say, Marchand.



 III
After all the pretty contrast of life and death
Proves that these opposite things partake of one,
At least that was the theory, when bishops' books
Resolved the world. We cannot go back to that.
The squirming facts exceed the squamous mind,
If one may say so . And yet relation appears,
A small relation expanding like the shade
Of a cloud on sand, a shape on the side of a hill.



 IV
A. Well, an old order is a violent one.
This proves nothing. Just one more truth, one more
Element in the immense disorder of truths.
B. It is April as I write. The wind
Is blowing after days of constant rain.
All this, of course, will come to summer soon.
But suppose the disorder of truths should ever come
To an order, most Plantagenet, most fixed. . . .
A great disorder is an order. Now, A
And B are not like statuary, posed
For a vista in the Louvre. They are things chalked
On the sidewalk so that the pensive man may see.



 V
The pensive man . . . He sees the eagle float
For which the intricate Alps are a single nest.

                                               Tradução de Mário Faustino



In: Mário Faustino.  Poesia completa, poesia traduzida.  SP: Max Limonad, 1985.





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