Acordei com vontade de reativar este blog, que desativei há quase seis anos, depois de nove anos de intensa atividade. O espírito a presidir sua existência continua o mesmo, sintetizado em sua breve e protocolar descrição: "poesia, literatura, música, futebol, comes e bebes, humor, bom humor, mau humor..." o que vier de diferente, acréscimo ou de supressão, será sinal do tempo passado a cunhar suas mudanças neste escriba.
Como primeira postagem da retomada, posto um esboço - que em italiano se diz "bozzetto", plural: "bozzetti" - de poema, motivado por dias de luto, consternação, medo, impotência... enfim, nossos dias. A foto que a acompanha circulou na mídia esta semana.
Aproveito para linkar aqui uma descoberta de agora há pouco, de um veículo que me parece precioso para acompanhar os constantes e inquietantes acontecimentos nas periferias que "coalescem em torno de nossas cidades sitiadas", como diz a canção "Ronda carioca", dos chapas Fernando Pellon e Paulinho Lêmos (procurem conhecer)*. Mas o link de que falo é para a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Social https://dmjracial.com/ .
E o poema em construção é este
ciências abstrusas, números irracionais, letras
apagadas e ter amor ao que faço ou finjo
fazer, criar corvos, entrar e sair de tretas
ir ao mercado comprar maçãs, apostar no bicho
jogar o peixe pescado aos gatos
e nem de longe pensar em nada parecido com assassinatos
ao redor de mim
fosse Marcus Vinícius e se eu fosse ruim de bola
e ser barrado até no gol, mas bom da bola
e dedicar meu tempo a organizar os comerciários
contra comerciantes gananciosos e argentários
ainda que me ameaçassem em vão com o assassinato
meu provável fim
de um vasto latifúndio de infortúnios
e de tanto me esforçar tornar-me exemplo
exímio construtor de pontes e túneis
e expulsar de tantos outros templos os vendilhões
de sempre a atender para todo o sempre orações e assassinatos
sem fim
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