EM
QUE NASCESTE
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
País nenhum como este
Vê que vida que há no chão, que multidão de insetos!
(apud Olavo Bilac)
mas primeiro os dilacera e depois ainda
os incinera junto com os livros que escreveram
os cachorros que não os leram não os lerão
nem há como como comer é o que importa
não há janela não há porta capaz de detê-los
AR 15 kalashnikov funda estilingue 9 mm
AI-5 artigo 142 besta besta-fera bota fora
o ódio sobre a cruz sobre o padre sobre o pastor
quer ver o babalorixá com a boca cheia
de formiga formicida feminicida é o meu país
enquanto rouba galinhas no quintal vizinho
levando numa mala que lança ao rio
o corpo da mulher e do seu filho e o do vizinho
e o da mulher do vizinho e do filho do vizinho
numa mesa com rícino e vinho uma emulsão
de porra e bílis e fezes muco e as veias e varizes
promessa de vida eterna promessa de futuro
felicidade ereta ereção infinita tanto eu olho
a linha do horizonte onde ainda vejo num navio
o meu país quem sabe quem me viu quem nos viu
no passado dum futuro que nunca se construiu
lamentação num muro o meu país sem vulcão
sem terremoto o meu país de pauis de jurisconsultos
generais sacrossantos fundassentados em vasos
onde trocam boquetes e coitos de escopeta
fissurados nas fressuras o meu país de finos manjares
derramados como sal sobre a mesa da santa ceia
a pátria do desperdício o meu país de cano duplo.
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