Zdzislaw Beksinski #38 por Rachid Fikri |
preciso de algum
- na verdade de um pouco mais do que algum
pra reformar a casa e
uma nova televisão
preciso sair do puxadinho no labirinto de labirintos
de puxadinhos dentro do terreno de 12 x 8 + 23 parentes e
encostados labirínticos
por isso vim resolutamente caminhar por essas ruas causticantes
que evaporam a chuva antes mesmo que ela bata nas pedras
da calçada
a empurrar-me e a esta cadeira com o corpo e estes trapos que cuidadosamente
lavei antes de sair de casa, embora faltem sapatos e a sola do pé
do corpo na cadeira vá ficando encardida cada vez mais à medida que
caminhamos
(lavei os trapos cuidadosamente afinal a agência do banco
fica dentro do shopping e os seguranças costumam expulsar
quem anda sujo por aqueles corredores ante aquelas vitrinas cintilantes
embora ao reparar nos pés imundos do homem na cadeira
se mostrem todos compreensivos – afinal, é um morto)
“acorda, tio Paulo”
“assina, tio Paulo”
“você precisa assinar, tio Paulo”
“meu Deus...”
ao ouvir que me chamava, prestei atenção
olhei para o lado
e liberei:
o que são 17 mil para um banco?
tio Paulo mesmo acordou embora continuasse imóvel
em seu assento e assim foi de olho rútilo
- embora cochilasse aqui e ali
e riso satisfeito
- na verdade de um pouco mais do que algum
pra reformar a casa e
uma nova televisão
preciso sair do puxadinho no labirinto de labirintos
de puxadinhos dentro do terreno de 12 x 8 + 23 parentes e
encostados labirínticos
por isso vim resolutamente caminhar por essas ruas causticantes
que evaporam a chuva antes mesmo que ela bata nas pedras
da calçada
a empurrar-me e a esta cadeira com o corpo e estes trapos que cuidadosamente
lavei antes de sair de casa, embora faltem sapatos e a sola do pé
do corpo na cadeira vá ficando encardida cada vez mais à medida que
caminhamos
(lavei os trapos cuidadosamente afinal a agência do banco
fica dentro do shopping e os seguranças costumam expulsar
quem anda sujo por aqueles corredores ante aquelas vitrinas cintilantes
embora ao reparar nos pés imundos do homem na cadeira
se mostrem todos compreensivos – afinal, é um morto)
“acorda, tio Paulo”
“assina, tio Paulo”
“você precisa assinar, tio Paulo”
“meu Deus...”
ao ouvir que me chamava, prestei atenção
olhei para o lado
e liberei:
o que são 17 mil para um banco?
tio Paulo mesmo acordou embora continuasse imóvel
em seu assento e assim foi de olho rútilo
- embora cochilasse aqui e ali
e riso satisfeito
até a hora de ser enterrado.
Texto maravilhoso.
ResponderExcluirObrigado.
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