quarta-feira, 25 de maio de 2011

AH, UM SONETO... DE NELSON ASCHER

Um dos “Quatorzes” de Parte alguma, hexossílabo:

FUMAÇA

Acordo de manhã nico-
tinado e, ao ver meus dentes
outono-sorridentes
no espelho, intuo a pane co-

lossal, o dano orgânico
que, em ambos reincidentes
pulmões, venho entrementes
causando e sinto pânico

por ter, com a fumaça
hostil que me repassa
como inexorcismável

espírito incorpóreo,
construído, em meu cadáver
futuro, um crematório.

            In: Parte alguma.  Companhia das Letras, 2005.

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