LETES
Os mortos são felizes. Esqueceram
a amargura da vida. Ora declina
o sol no ocaso: é o dia que termina.
Não chores, com pesar, os que morreram.
As almas têm sede. Já beberam
o esquecimento em fonte cristalina.
Se cair nessa fonte a contamina
o pranto dos que em vida estremeceram.
Bebendo da água turva, lembrarão
– quando os campos de asfódelo cruzarem –
velhas dores que esconda o coração.
Se o pranto não conténs, no entardecer,
chora os vivos, então, por desejarem
o olvido e não poderem esquecer.
Tradução de José Paulo Paes
In: Gaveta de tradutor. José Paulo Paes. Letras Contemporâneas, 1996.
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