quinta-feira, 24 de novembro de 2011

AH, UM SONETO... DE LORENTSOS MAVÍLIS

LETES

Os mortos são felizes. Esqueceram
a amargura da vida.  Ora declina
o sol no ocaso: é o dia que termina.
Não chores, com pesar, os que morreram.

As almas têm sede.  Já beberam
o esquecimento em fonte cristalina.
Se cair nessa fonte a contamina
o pranto dos que em vida estremeceram.

Bebendo da água turva, lembrarão
– quando os campos de asfódelo cruzarem –
velhas dores que esconda o coração.

Se o pranto não conténs, no entardecer,
chora os vivos, então, por desejarem
o olvido e não poderem esquecer.

                Tradução de José Paulo Paes


In: Gaveta de tradutor.  José Paulo Paes.  Letras Contemporâneas, 1996.


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