O MAL
Enquanto que os escarros vermelhos da metralha
Silvam no infinito azul do céu o dia todo;
E rubros ou verdes, junto ao Rei que os achincalha,
Tombam batalhões em massa no meio do fogo;
Enquanto que desbarata a medonha loucura
Tantos milhares de homens num monte incandescente;
– Pobres mortos! no estio, na erva, na alegria tua,
Natureza!, que fizeste os homens santamente... –
– Existe um Deus que ri às toalhas damascadas
Dos altares, às taças de ouro, ao incenso, às preces;
Que no doce embalo das hosanas adormece,
E só desperta quando as velhas mães, congregadas
Na dor, e a chorar sob as negras toucas, lhe dão
Amarrado num lenço, o seu último tostão!
(tradução de José Paulo Paes)
LE MAL
Tandis que les crachats rouges de la mitraille
Sifflent tout le jour par l’infini du ciel bleu;
Qu’ecarlates ou verts, près du Roi que les raille,
Croulent les bataillons en masse dans le feu;
Tandis qu’une follie épouvantable, broie
Et fait de cent milliers d’hommes un tas fumant;
– Pauvres morts! dans l’eté, dans l’herbe, dans ta joie,
Nature! ô toi qui fis ces hommens saintment!... –
–Il est um Dieu, qui rit aux nappes damassées
Des autels, à l’encens, aux grands cálices d’or;
Qui dans le bercement des hosannah s’endort,
Et se reveille, quand les mères, ramassées
Dans l’angoisse, et pleurant sous leur vieux bonnet noir,
Lui donnent un gros sou lié dans leur mouchoir!
In: Gaveta de tradutor. José Paulo Paes. Letras Contemporâneas, 1996.
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