Como se sabe, Vinícius de Moraes teve quatro parceiros principais (pela ordem de entrada em cena, Tom, Carlinhos Lyra, Baden Powell e Toquinho), além de ter composto com muita gente uma canção ou outra, ou às vezes até um número bem significativo (casos de Edu Lobo, Francis Hime e Chico). Mas entre aqueles parceiros bem fortuitos, um deles em especial, Jards Macalé, compôs com o poeta uma das canções que mais me tocam de tudo o que Vinícius fez. Poderosa pepita em termos de letra e melodia, composta parece em meados dos anos 60, “O mais-que-perfeito” é exemplo de um tipo de canção em que Macalé é craque, possivelmente o melhor de sua geração: a canção melodiosa, derivada dos gêneros ancestrais da modinha e da seresta. Clara Nunes a gravou, mas posto aqui a gravação do próprio Jards Macalé no extraordinário CD O q faço é música, lançado em 1998.
A letra:
Ah quem me dera ir-me
contigo agora
a um horizonte firme
comum embora
Ah quem me dera amar-te
sem mais ciúmes
de alguém nalgum lugar
que nem presumes
Ah quem me dera ver-te
sempre a meu lado
sem precisar dizer-te
jamais: Cuidado!
Ah quem me dera ter-te
como um lugar
plantado num chão verde
para eu morar-te
Ah quem me dera ter-te
morar-te até morrer-te.
O meu leitor aqui já deve ter se tocado de que uma das minhas grandes admirações musicais é Jards Macalé. Porque é mesmo. Sua elegância melodiosa, seu senso extraordinário de estar à vontade no meio de intrincadas harmonias com seu violão cortante e explosivo – quando a canção e a performance assim o exigem – ao lado de sua voz e seu canto pouco convencionais, num tom a um só tempo sombrio, doce e gutural, tudo isso faz com que a audição de seus CDs seja sempre fonte de prazer e descoberta.
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