O livro Ofício do fogo, que comprei no escuro em 1990, é a única referência que tenho deste poeta, cujo nome nunca vi citado, cuja poesia nunca vi comentada. É possível que seja pura e simples desinformação de minha parte, além do fato de que nunca o saí buscando pelos googles da vida. Mas não importa. Sempre que pego para folhear Ofício do fogo vale o prazer de me deparar com esta poesia excelente. Se algum leitor me puder acrescentar alguma informação, agradeço. Vão aí dois poemas do livro.
AVENIDA LÁCTEA
Semi-nuas
expõem o cu
de luz
na noite crua.
Vermelhiúmidas
por pouca prata
revelam-se às ruas.
Mas por que prata se dão
senão,
pela própria prata da lua?
Estrelas,
meras estrelas.
Por um triz
poderia come-las.
POR QUEM?
Com que ponta toquei
o pêndulo de teu sino?
com a língua
com o tórax
com o riso?
Sinuosos seios.
Negras senóides de pelos.
O fogo do instante a pino.
O sim-não dos sinos.
O jato-arroio minando entre as pernas:
é por mim que elas dobram.
Os ritos do pêndulo.
Os gritos do sino.
In: Ofício do fogo. Taurus, 1985.
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