segunda-feira, 4 de julho de 2011

DOIS POEMAS DE RENATO CAMARGO

           O livro Ofício do fogo, que comprei no escuro em 1990, é a única referência que tenho deste poeta, cujo nome nunca vi citado, cuja poesia nunca vi comentada.  É possível que seja pura e simples desinformação de minha parte, além do fato de que nunca o saí buscando pelos googles da vida.  Mas não importa. Sempre que pego para folhear Ofício do fogo vale o prazer  de me deparar com esta poesia excelente.  Se algum leitor me puder acrescentar alguma informação, agradeço. Vão aí dois poemas do livro.

AVENIDA LÁCTEA
            Semi-nuas
expõem o cu
            de luz
            na noite crua.

Vermelhiúmidas
            por pouca prata
            revelam-se às ruas.

Mas por que prata se dão
senão,
            pela própria prata da lua?

            Estrelas,
                        meras estrelas.
        Por um triz
            poderia come-las.




POR QUEM?

Com que ponta toquei
o pêndulo de teu sino?
            com a       língua
       com o                tórax
com o                             riso?

Sinuosos seios.
                        Negras senóides de pelos.
O fogo do instante a pino.

O sim-não dos sinos.
O jato-arroio minando entre as pernas:
               é por mim que elas dobram.

Os ritos do pêndulo.
Os gritos do sino.

In: Ofício do fogo.  Taurus, 1985.


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