quarta-feira, 6 de julho de 2011

"FIRMA IRRECONHECÍVEL",4o. SEGMENTO

               Como já informei aqui, "Firma irreconhecível" é o longo poema que dá título a meu segundo livro, lançado pela Oficina Raquel em 2009. O livro foi acompanhando de um CD com o poema dito por mim, dividido em 10 faixas para comodidade do ouvinte. Postei anteriormente os três primeiros segmentos, posto hoje o quarto. Ao final do texto, os links para os segmentos anteriores.





Tudo o que se ou-
ve na esquina é digno de
assinatura, por ti eu
lavo privada, contigo eu
subo no andaime, privo
contigo e me privo do
mais mísero sorriso,
compro fralda, crio filho
afirmo que adoto, fraudo,
reconheço, trato, assumo, se-
ja menina ou menino, me
dependuro na broxa, an-
do no arame farpado, na-
do amarrado, me afogo,
sumo no oco do mundo,
ateio fogo escondido no
rabo do gato de fora,
bajo las botas del ogro
faço o sogro bater as botas,
penduro a mim mesmo
num poste, lavro liquido
o epitáfio: morto em paz
eis que aqui jaz o sumo
dos borra-botas. Lapidar
como se a lápis assinasse
para sempre: Descanse em paz
(já vai tarde) (filho da puta),
que exemplo! Pai extremado
(corno, quebraste) o filho
querido (que-traste!), Dorme
(no inferno) teu sono, Amor
eterno (pois sim), Chorosa Es-
posa (putana), Orai por Ri-
cardo (ão), Amparai (Brás
das apólices), Na viuvez
apoiei (não deu conta),
Feliz com você (comborço)
para sempre fiel fui
(se fudeu), Pratiquei
a verdade (sei), Admira-
ção sem fim de todos
os amigos e parentes
(-teses), mas não assina
só dita, mata a cobra
e sob a terra o pau
se esfarela na argila e
na cremação a família
se reúne, espalha as cinzas,
mas capricho da viração
por sobre o mar faz
a curva, enquanto ao cosmos
torna o pó e vai escolher
seu nicho entoando seu re-
quiém depositado no
lixão. Assinar se assina
tudo em terra onde se aprende,
desde a tenra idade implume,
que não se paga ou se pune
credor, revisor, ladrão
que não honra o que assina,
se o nada é o minto que é tudo,
como recitava o fanho,
todo ganho já se perde,
gadanho e mais bico adunco,
furunculose, apostema,
estilo à procura de assunto,
tudo se assina, prefácio
de poetastro, obra-prima
de bestunto, microcéfalo
corcunda, neve de limpar
a bunda, ai como seria bom
assinar, livrar pra sempre
do peso da autoria e ao
rabisco atribuir o ris-
co no rabo de fora,
currídicículo tes-
tirrículhão de porco ron-
colho ciscado por pinto
arisco, tudo no mesmo
monturo, obra completa de
sarney, disparate de aluno,
mesa-redonda de domingo,
crime hediondo perdoado,
josué montello pelado,
affonso romano de cue-
ca, na ABL a soneca
é sagrada no estatuto
de feijão com couve e chá
no lugar da pinga, pinga
a tinta em folha branca,
se arma a assinatura, mas
falta tinta na cara e ela
não ruboriza, cor de sangue
é a camisa e dá a luz
certa pra foto e quem assi-
na não escreve e quem
escreve não lê o pau
não come e tudo fica por
isso mesmo, vai assim do
ermo ao esmo a esmola
do esmoler.












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