ABERTURA # 2
Era uma casa de grandes portas
Onde se convidava
Lembro-me também
Das pessoas conversando
Hoje não há mais nada
Seus fantasmas às vezes
Chegam até mim em tristes ecos
Acusam-me
“Não te vi aqui, lá
Você sumiu” – e sumi
“Não falou nada, não viu nada
Você desapareceu” – e desapareci.
Nossa adolescência
Ainda é um sonho tranqüilo
Lembro-me também
Da timidez, do tesão, da tíbia
Vontade de humilhar o mundo
Hoje há muita coisa
Mas as portas são mais estreitas
E a vida é um relógio
contínuo, presente, urgente
Cheirando a máquina e a óleo
Antes era um rio e suor, líquidos
Como o desejo e a angústia
Antes não havia fim do mundo
Os portos passaram
No entanto nunca fui tão sábio
Como quando não sabia nada
e mesmo assim
mesmo assim
mesmo assim
assim
In: Culturas. Oficina Raquel, 2006
Gostei, muito bom.
ResponderExcluirBjos
Obrigado, Lu
ResponderExcluirum beijo do
Bozzetti
Valeu Roberto, do fundo do baú.
ResponderExcluirRicardo,
ResponderExcluirdo fundo do baú falando do mais fundo do baú. gosto muito desse texto.
abração
do Roberto
O Ricardo desperta nossas intimidades mais profundas. Muito bom, sempre!
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