quarta-feira, 16 de março de 2011

SILVIANO SANTIAGO


Você se lembra, tesão meu,
naquela suave manhã de verão,
o doce sol
esquentava o orvalho
das plantas
destruindo as gotas brilhantes
pelo perfume que exalavam,
você não se esqueceu,
ou já se esqueceu?
tesouro meu,
do objeto que de repente
vimos no meio do caminho:
a carniça de um corpo
de mulher.  Você se lembra,
deitada na cama semeada
de farpas, pedrinhas e formigas,
ela, com as pernas pro alto
qual puta velha,
era cozida ao ponto
pelo doce sol de verão
e espalhava pelos ares
o úmido veneno
das entranhas. *

* homenagem a Charles Baudelaire e a Carlos Drummond de Andrade

                                                                   
                                                                       In: Cheiro forte.  Rocco, 1995

Um comentário:

  1. Uau! Como pode escrever tão bem assim? É a cara dele. Olha bem pra foto e vê se esse poema não é a cara dele! Muito bom!!!

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