quarta-feira, 8 de junho de 2011

AH, UM SONETO... DE JORGE DE LIMA

De Invenção de Orfeu,

Do  Canto VI – Canto da desaparição

I

Aqui é o fim do mundo, aqui é o fim do mundo
em que até aves vêm cantar para encerrá-lo.
Em cada poço, dorme um cadáver, no fundo,
e nos vastos areais – ossadas de cavalo.

Entre as aves do céu: igual carnificina:
se dormires cansado, à face do deserto,
quando acordares hás de te assustar.  Por certo,
corvos te espreitarão sobre cada colina.

E, se entoas teu canto a essas aves (teu canto
que é debaixo dos céus, a mais triste canção),
vem das aves a voz repetindo teu pranto.

E, entre teu angustiado e surpreendido espanto,
tangê-las-á de ti, de ti mesmo, em que estão
esses corvos fatais.  E esses corvos não vão.

Poesia Completa de Jorge de Lima.  Nova Fronteira, 1980.

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