Hoje é quinta, amanhã é menos,
súbito a conta é subtração.
Enquanto vivemos, a ponta
da seta sempre aponta
em nossa direção:
É o de somenos
é um truísmo
rebarba que redonda
mente ao nosso medo
de dissipação. O diapasão
dá a nota rombuda
que o ouvido não capta
− melhor: capta e deixa
vazio, eco ao fim
de fundo sem som.
Célere não percebemos
o quanto o tempo
desacelera o que a espera
não cumpre e fica
baldio, resquício
quintal dos fundos
caco de entulho
quarto imprestável
onde se adentra
só pra saber
que não se encontra
o que faria falta
se não fosse menos.
Amanhã é menos
hoje é quinta
de ontem não lembramos.
Marcelo Diniz me repreendeu suavemente (como é de seu feitio), aqui outro dia por ter postado o rascunho de um soneto que ele me enviara por email [http://robertobozzetti.blogspot.com/2011/02/ah-um-soneto-inedito.html]. No que fez muito bem, assim como eu tinha feito muito bem em tê-lo postado. Estamos quites. Ele disse que eu tenho “mania de rascunho”, o que é verdade, mas é meia verdade. É que eu brinquei com a idéia de rascunho no meu Firma irreconhecível (o livro) – o que sempre pode e deve ser visto, suspeitosamente, como uma maneira de justificar algum desleixo. Mas aqui no blog eu vou postar mesmo rascunhos meus. Penso que uma das coisas legais – há várias, dia desses escrevo sobre isso – de se ter um blog é poder postar textos assim meio desleixadamente mesmo, quem sabe como uma espécie de aquecimento para o que depois pode vir a ser propriamente publicado em livro. E só isso já dá pano pra muita reflexão entre, por exemplo, a palavra impressa e a palavra virtual. Mas poder postar meio que rascunhos (de autoria própria e numa qualidade que se possa julgar minimamente aceitável) acho que também implica uma atitude afirmativa, ainda que irresponsável, que se justifica do seguinte ponto de vista: desconfio que tenho mais leitores aqui do que aqueles que leram ou lêem meus livros. E há sempre a esperança e a possibilidade de esses leitores discutirem, comentarem, criticarem pra valer os rascunhos que aqui estejam postados.
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ResponderExcluirAcredito que uma das grande vantagens em se postar rascunhos de textos em blogs ou páginas de rede sociais é poder ter um feedback antes do "produto final"; críticas, elogios, sugestões... Daí então, antes de finalizar, expurgamos as críticas, elevamos a soberba com os elogios, ignoramos as sugestões ruins e, por outro lado, fingimos ignorar as boas também, só pra evitar a fadiga de dar os devidos créditos - aí não chamo de plágio, e sim de uma espécie de co-autoria elíptica.
Sim, Rennan, a se considerar que haja um "produto final" - acho que vc se refere ao que sai ou sairia publicado em livro -, sem dúvida que a postagem pode vir a ter essa vantagem, o que dependerá sempre em tese dos comentários que suscitar.
ResponderExcluirDe certa maneira, a depender dos interlocutores que se tenha, isso sempre foi assim. Mas sem dúvida que um blog pode vir a estimular essa troca, e eu acho ótimo que seja isso mesmo. Mas não acho que créditos são "devidos" por boas sugestões, isso dependerá sempre de quem assina, se julgará merecedor de dar ou não tais créditos. A expressão "co-autoria elíptica" é uma maravilha! vou adotar. E vou pensar se darei os créditos.
Obrigado pelo comentário, grande abraço
do Roberto Bozzetti