sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

AH, UM SONETO... (VII)


De TITE DE LEMOS















“Aulas (curso noturno) para musas:
não precisa experiência anterior:
fotografia, preto-e-branco ou cor.
Completaremos linhas inconclusas.

Transparentes serão feições escusas”
se eu puder ser teu Dante ou confessor,
romper-te de contentamento e dor,
presentear-te o amor que me recusas.

Verás teipes históricos de damas
que arqueiros de outras eras desarmaram.
Das Graças, Lola, Gala, Nova, Norma.

Depois, a sós, te amo e tu me amas,
gratos aos fatos que nos inspiraram
tão delicada e tão cruel performance.



                Não resisto a um breve comentário:  os sonetos de Tite de Lemos (1942-1989) são preciosos e me foi muito difícil escolher apenas um para postar aqui.  Optei por este por várias razões, entre elas a maravilhosa rima que o encerra “Norma/performance”.  Tão precisa e tão anti-parnasiana.
                Não resisto a outro: no filme Macunaíma, de Joaquim Pedro, a bela  voz do narrador em off é de Tite de Lemos.

                                          (in: Caderno de Sonetos. Nova Fronteira, 1988)

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