Com esse título geral, tirado de Álvaro de Campos, me propus a postar aqui no blog sonetos de tempos e lugares variados, os mais antigos em geral sonetos que muito admiro de longa data. Mas nada impede que sonetos recentes, recentíssimos aqui figurem, desde que goste deles, assim como sonetos que, não tendo sido escritos há pouco tempo, eu ignorava. É precisamente o caso deste aqui, o VI, que li pela primeira vez esta semana, de um poeta português do começo do século XX ao qual nunca tinha prestado maior atenção. Divido, pois com os leitores, esta bela “descoberta” recente.
Para-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado,
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz do esquecimento.
Para surpreso, escrutando, atento,
Como para um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado:
Para e fica e demora-se um momento.
Para e fica; na doida correria
Para à beira do abismo e se demora:
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar d’aço que essa noite explora;
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.
Ângelo de Lima
(in: A poesia da “Presença”: estudo e antologia, org. por Adolfo Casais Monteiro, Moraes Ed. , Lisboa, 1972 )
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