EM DESPEDIDA: PROIBINDO O PRANTO
Como esses santos homens que se apagam
Sussurrando aos espíritos: “Que vão...”
Enquanto alguns dos amigos amargos
Dizem: “Ainda respira”. E outros: “Não.” –
Nos dissolvamos sem fazer ruído,
Sem tempestades de ais, sem rios de pranto,
Fora profanação nossa ao ouvido
Dos leigos descerrar todo este encanto.
O terremoto traz terror e morte
E o que ele faz expõe a toda gente,
Mas a trepidação do firmamento,
Embora ainda maior, é inocente.
O amor desses amantes sublunares
(Cuja alma é só sentidos) não resiste
À ausência, que transforma em singulares
Os elementos em que ele consiste.
Mas a nós (por uma afeição tão alta,
Que nem sabemos do que seja feita,
Interassegurado o pensamento)
Mãos, olhos, lábios não nos fazem falta.
As duas almas, que são uma só,
Embora eu deva ir, não sofrerão
Um rompimento, mas uma expansão,
Como ouro reduzido a aéreo pó.
Se são duas, o são similarmente
Às duas duras pernas do compasso:
Tua alma é a perna fixa, em aparente
Inércia, mas se move a cada passo
Da outra, e se no centro quieta jaz,
Quando se distancia aquela, essa
Se inclina atentamente e vai-lhe atrás,
E se endireita quando ela regressa.
Assim serás para mim que pareço
Como a outra perna obliquamente andar.
Tua firmeza faz-me, circular,
Encontrar meu final em meu começo.
Tradução de Augusto de Campos
A VALEDICTION: FORBIDDING MOURNING
As virtuous men passe mildly away
And whisper to their soules, to goe,
Whilst some of their sad friends doe say,
The breath goes now, and some say, no:
So let us melt, and make no noise,
No teare-floods, nor sight-tempests move,
T’were prophanation of our joyes
To telle the layetie our love.
Moving of th’earth brings harmes and feares,
Men reckon what it did and meant,
But trepidation of the spheares,
Though greater farre, is innocent.
Dull sublunary lovers love
(Whose soule is sense) cannot admit
Absence, because it doth remove
Those things which elemented it.
But we by a love, so much refin’d
That our selves know not what it is,
Inter-assured of the mind,
Care lesse, eyes, lips, and hands to misse.
Our two soules therefore, which are one,
Though I must goe, endure not yet
A breach, but an expansion,
Like gold to ayery thinnesse beate.
If they be two, they are two so
As stiffe twin compasses arte two,
Thy soule the fix foot, makes no show
To move, but doth, if th’other doe.
And though it in the center sit,
Yet when the other far doth rome,
It leanes, and hearkens after it,
And growes erect, as that comes home.
Such wilt thou be to mee, who must
Like th’other foot, obliquely runne;
Thy firmness makes my circle just,
And makes me end, where I begunne.
(In: Verso reverso controverso. Perspectiva, 1978)
Ótimo texto, professor!!!
ResponderExcluirÉ a primeira vez que acesso o seu blog e já me identifiquei com ele!
A atual situação da minha cidade realmente nos proíbe o pranto... De que adianta chorar ao ver casas destruídas, pessoas perambulando pelas ruas, outras dormindo em barracas, outras se aproveitando da situação para tirar algum "proveito" dela... não adianta chorar... Temos, sim, que olhar pra frente e continuar caminhando...
Fique com Deus!!!
Bjos,
Andréa (São José do Vale do Rio Preto-RJ)
Oi, Andréa,
ResponderExcluirbom saber de você, estava preocupado, falei com várias pessoas. Fico feliz de saber que você está bem, fico feliz de que seja minha seguidora, fico feliz de que me leia.
Obrigado pelo comentário e pela notícia, tudo de bom.
Um beijo,
Bozzetti