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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
NOITE ESCURA
Apago às vezes todas as luzes e fico na varanda. Todo o quintal fica no escuro, fica tudo praticamente indistinguível mergulhado dentro da noite. Quase total silêncio, não fossem vozes esparsas de animais no brejo ao pé dos meus degraus. Então reparo na tristeza dos cachorros, os três vira-latas se recolhem na falta de motivação comum de correr junto à cerca, de latir para alguém que passe na estrada - gente ou cavalo extraviado -, não passa por algum tempo nem sequer um carro à medida que se chega mais próximo da madrugada. Os cães não têm para quem mostrar serviço. Fica uma coisa próxima da morte, como no longo tempo, muitos anos, em que fiquei sem vir por aqui, fica como no tempo em que nada disso existia, e como num tempo em que não mais existirá. Os cães adivinham talvez quando se quedarão em definitivo silêncio, adivinhado nesse escuro provisório mas persistente. O que engolirá por fim este brejo, esta noite, estes cães, este morador? Que bocarra devorante entrevejo nesses segundos em que pareço vislumbrar, sem que me vejam, os séculos vindouros, testemunhos de que não deixei os rastros que me assinariam?
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Que lindo isso! Lindo, mas triste. Triste e indubitavelmente real. Bom seria se pudéssemos ser eternos. Eu tenho medo da noite, medo do silêncio e da escuridão. Ouvimos e vemos demais no silêncio e na escuridão.
ResponderExcluirAdorei seu blog, Roberto. Você escreve magnificamente. Parabéns!
Obrigado, Lu. Divirta-se, pois.
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