terça-feira, 21 de dezembro de 2010

AH, UM SONETO...: O PRIMEIRO FRANCÊS (QUE NÃO É. CF. ERRATA)

Marcelo Diniz há algum tempo vem trabalhando na tradução de sonetos franceses, especialmente do século 17.  Seus amigos ansiamos para que ele finalmente resolva  publicá-las em livro, mas todos sabemos que sua  extrema perícia é inseparável da perfeição e de nenhuma pressa.  Atendendo a um convite meu, Marcelo me enviou dois desses trabalhos, que já saíram na revista Alea, de estudos neolatinos da UFRJ. 
Dou a seguir  a tradução do que Jacques Roubaud considera como o primeiro soneto em língua francesa.  A referência à Itália logo no primeiro verso indica que já então se considerava o pioneirismo italiano na prática dessa forma fixa.   Segundo ainda indica Marcelo, a fonte para o texto  é a antologia de Jacques Roubaud, Soleil du soleil, anthologie du sonnet français de Marot a Malherbe.  Vai bilíngüe abaixo, mantida a ortografia  do francês antigo.


Graves Sonnets, que la docte Italie
a pour les siens la primiere enfantez,
et que la France a depuis adoptez,
vous apprenant une grace accomplie.

Assez des-ja vostre gloire annoblie
par tant d’esprit, qui vous ont rechantez,
fait que de vous le haults Cieux son hantez,
fait que de vous ceste terre est remplie.

Venez en rangs aussi petits Huitains,
vennez Dizains, vrais enfans de la France.
si au marcher vous n’estes si hautains,

vous avez bien dessous moindre apparence
autant de grace, et ne meritez pas
qu’un estranger vous face mettre au bas.


Grave soneto, a Itália, douta pluma,
tem para si primícias de tua cria,
criança que França, então, adotaria,
ensinando-te graça que te apruma.

Há muito que tua glória se consuma
com teu canto que a tanta alma extasia,
que só contigo, o céu se cobriria,
que só contigo, a terra se avoluma.

Alinhai-vos também, breves Oitavas,
e Dezenas, nascidas desta França,
se vosso andar a tanto não se agrava,

decerto tendes vós, em vossa nuança,
tanta graça que nunca mereceis
que estranho algum deponha-vos de vez.

                                               Scevole de Saint-Marthe (1536-1623)
                                               tradução de Marcelo Diniz
ERRATA: Já havia postado a matéria acima, quando recebi de Marcelo Diniz a seguinte errata, ou esclarecimento, que posto a seguir:

"Caro Roberto,
os sonetos que enviei não são os que Roubaud considera como primeiro. Trata-se, de fato, uma primeira geração de sonetistas, que podemos, com alguma nuance, situá-la entre Marot e Ronsard. Os primeiro soneto francês, segundo Roubaud, que, diga-se de passagem, considera o primeiro sonetista Clément Marot, não é, no entanto, de Marot; é de Nicolar D'Herberay, tradutor do Amadis para o francês. Tenho a tradução deste soneto, esta sim publicada na Alea da UFRJ. Estes sonetos que você postou ainda são inéditos no Brasil[ele me enviou duas traduções, das quais postei uma] e pretendo incluí-los no meu +1[seu livro em preparo].

Talvez valha a pena a repostagem..."
Forte abraço,
Marcelo Diniz

Fica portanto acima esclarecido.  Divido com Marcelo a responsabilidade pelo equívoco, pois a primeira mensagem que ele me enviou estava um tanto truncada.  A pressa que ele não tem em seu trabalho de tradutor, às vezes se desafoga nas correspondências rápidas na net.

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