quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"DAVA TEMPO E NÃO CORREU"

Muito da graça de Paulo Vanzolini, que de resto parece ser um sujeito irascível e mal-humorado (e esta não é uma apreciação exatamente negativa), está no detalhe.  Como no verso “dava tempo e não correu”, que está em “Cravo branco”.  O sujeito sai de casa prafazer papel de homem – e aqui a perspectiva sexista de Vanzolini (que é nuançada e polifônica, note-se, não é simples grosseria) – pra fazer um papel digno ao se encontrar com a amada, que era mulher de outro.  Pois o outro lhe aponta a arma, mas o sujeito resolve morrer com dignidade. Afirma a dignidade de seu amor, afirma-se como homem que assume agonicamente seu amor e... morre: “Ela lhe deu o cravo/o outro se ofendeu/ele olhou o revólver/dava tempo e não correu/dobrou os joelhos, desabou no chão...”  os joelhos se dobram, mas não o seu desejo.  Ao morrer, ele afirma a  paixão pela mulher desejada.  Ou simplesmente (?) a sua altivez.

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