sábado, 4 de dezembro de 2010

O NAVIO

Nossa cidade está sempre limpa e bem iluminada;
Baralhos sujos na Terceira Classe, na Primeira não:
Ali se aposta alto; expatriados na proa, os seus pobres nada
Sabem dos salões nobres: ninguém pergunta a razão.

Amantes escrevem cartas, atletas praticam esporte;
Um da virtude, outro da beleza da esposa duvida,
Rapaz de ambição: talvez o Capitão não nos suporte;
Quiçá alguém esteja levando civilizada vida.

Lenta, a nossa cultura ocidental com toda a pompa investe
Contra as ermas planícies de um mar; algures, o porto:
Um séptico Oriente, flora e fauna fantásticas, e vestes.

Algures um estranho e astuto Amanhã vai absorto
Para a cama planejando, aos homens da Europa, algum teste.
Ninguém sabe quem será o mais vexado, o mais rico, e o morto.

                                   W.H. Auden
                                   (tradução de José Paulo Paes)

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