Traduzidos por José Paulo Paes
MUROS
Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,
ergueram à minha volta altos muros de pedra.
E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio a mente me depreda.
E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.
Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.
PRECE
Um marujo o abismo do mar guardou consigo.
Sem de nada saber, a mãe coloca um círio
aceso diante da Virgem, um longo círio,
para que volte logo, a salvo dos perigos.
No bramido dos ventos põe o seu ouvido;
mas enquanto ela reza e faz o seu pedido,
sabe o ícone a escutá-la, grave, com pesar,
que o filho que ela espera nunca há de voltar.
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