sábado, 11 de dezembro de 2010

O VIZINHO

Eu sou o vizinho. Eu o denunciei.
Não queremos ter aqui
Nenhum agitador.

Quando penduramos a bandeira com a suástica
Ele não pendurou nenhuma bandeira.
Quando lhe falamos sobre isso
Ele nos perguntou se no cômodo
Onde vivemos com quatro crianças
Ainda há lugar para um mastro de bandeira.
Quando dissemos que acreditamos novamente no futuro
Ele riu.

Nós não gostamos quando o espancaram
Na escada.  Rasgaram-lhe o avental.
Não era necessário.  Temos poucos aventais.

Mas agora ele se foi, há sossego no edifício.
Já temos preocupações demais
É preciso ao menos haver sossego.

Notamos que algumas pessoas
Viram o rosto quando cruzam conosco.  Mas
Os que o levaram dizem
Que agimos corretamente.

                                               Bertolt Brecht
                                               (tradução de Paulo Cesar Souza)

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