domingo, 19 de dezembro de 2010

NA MEMÓRIA: MOTO-PERPÉTUO NA PRK-30

             “- A festa bai ser uma b’leza!
             - Ah, bai, bai!
- Bai sair, não?  
- Não. Por quê?
- Por que bai bai é adeus em inglês!
- Não! Eu disse que a festa bai ser uma b’leza!
- Ah, bai, bai...
- Bai sair?
- Não, por quê?
- Porque bai bai é adeus em inglês!
- Não!! Eu disse que a festa bai ser uma b’leza!
- Ah, bai, bai!...
- Bai sair, não?
- Não. Por quê?!
...”

O diálogo amalucado aí em cima pode prosseguir até o infinito.  Seu sentido está no contra-sentido de base fonética que o alimenta.  Lógico que deve ser lido como se fosse no português de Portugal, como, aliás, era a norma de dicção no teatro brasileiro até meados do século XX .  E o que o mantém em moto-contínuo é que as falas passam de um  personagem para o outro, os quais as permutam alternadamente. .  É uma das maravilhosas invenções de Lauro Borges e Castro Barbosa, os responsáveis e astros únicos da PRK-30, “a emissora perturbadora das demais estações”, programa radiofônico de enorme sucesso por 20 anos, de 1944 a 64. Paulo Perdigão dedicou um livro ao programa, que vem com dois CDs (No ar: PRK-30!), uma seleção de diversos momentos do que foi ar.  Pessoalmente, não acho que os CDs mantenham sempre o mesmo nível alto.  Nos anos 70 uma gravadora pequena lançou dois LPs também de seleção.  O primeiro deles, de capa amarela (a do outro era verde), é espantosamente engraçado.  Mas o diálogo aí de cima não está em nenhum desses registros fonográficos: aprendi com um tio meu, que adorava o programa, sabia de cor vários sketches. Fica aqui como uma divertida lembrança e homenagem a ele, Aleardo.

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